domingo, 14 de setembro de 2008

Quando e qual a realidade iniciou a industrialização?

O processo de expansão industrial no Brasil foi intensificando nas décadas de 1940 e 1950. A partir da segunda metade dos anos 50, o setor industrial passou a ser o carro-chefe da economia no país. Durante o período colonial, pelas regras da política econômica mercantilista, não podia ser implantada no Brasil nenhuma tividade produtiva que competisse com as atividades da metrópole ou que prejudicasse seus interesses comerciais. Em 1785 o governo português proibiu formalmente o funcionamento de fábricas na colônia, para não atrapalhar a venda de tecidos e roupas comercializadas por portugueses no Brasil.
Os primeiros esforços importantes para a industrialização aconteceram no Império. Durante o Segundo Reinado, empresários brasileiros, como Irineu Evangelista de Souza (o visconde de Mauá) e grupos estrangeiros investiram em estradas de ferro, empresas de transporte urbano e gás, bancos e seguradoras. A política econômica oficial, porém, continuava a privilegiar a agricultura exportadora. No final do século XIX e início do XX, as indústrias brasileiras, em sua maioria, não passavam de pequenas pelarias, serrarias, moinhos de trigo, fiações e fábricas de bebida e de conserva.
O país importava matérias-primas, máquinas, equipamentos e grande parte dos bens de consumo. Os efeitos da quebra da bolsa de Nova York sobre a agricultura cafeeira e as mudanças geradas pela Revolução de 1930 (movimento político-militar que derrubou o presidente Washington Luís e acabou com a República Velha, levando Getúlio Vargas ao poder) mudaram o eixo da política econômica, que assumiu um caráter mais nacionalista e industrialista. As medidas concretas para a industrialização foram tomadas durante o Estado Novo. As dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial ao comércio internacional favoreceram essa estratégia de substituição de importações.
Em 1946 começou a operar o primeiro alto-forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A Petrobrás foi criada em outubro de 1953. O nacionalismo da era Vargas foi substituído pelo desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubstischek (1956 a 1961). Atraindo o capital estrangeiro e estimulando o capital nacional com incentivos fiscais e financeiros e medidas de proteção do mercado interno, JK implantou a indústria de bens de consumo duráreis, como eletrodomésticos e veículos, com o objetivo de multiplicar o número de fábricas de peças e componentes. Ampliou os serviços de infra-estruturas, como transporte e fornecimento de energia elétrica. Com os investimentos externos e internos, estimulou a diversificação da economia nacional, aumentando a produção de máquinas e equipamentos pesados para mecanização agrícola, fabricação de fertilizantes, frigoríficos, transporte ferroviário e construção naval. No início dos anos 60 o setor industrial superou a média de crescimento dos demais setores da economia brasileira.
Denomina-se industrialização ao processo de criação de uma quantidade cada vez maior de indústrias, que acabam por constituir o setor mais importante da economia.
Em outras palavras: a industrialização consiste numa modernização da economia do país, numa transformação da sociedade, de rural e agrícola, em urbana e industrial. Portanto, não se considera como industrialização uma simples criação de indústrias isoladas, subordinadas às atividades primárias, nuas sim um processo irreversível de criação de indústrias, no qual há urbanização e domínio da cidade sobre o campo.
Em termos mais precisos, podemos afirmar que a industrialização é um momento do desenvolvimento do capitalismo, da atividade fabril baseada na relação de trabalho assalariada. Seu resultado é o capitalismo pleno ou industrial, onde a indústria constitui o setor-chave da economia, e a relação de trabalho tipicamente capitalista - a relação entre a burguesia (capitalistas) e o proletariado (trabalhador assalariado) - torna-se dominante no conjunto da sociedade.
Assim, só se pode falar em industrialização no Brasil a partir do final do século XIX, período em que foi abolida a escravidão no país e se assiste a uma expansão da relação assalariada. Antes disso havia no máximo algumas indústrias isoladas, muito artesanato e algum crescimento manufatureiro, mas nunca uma industrialização. Isso porque a própria existência do trabalho escravo, que era o sustentáculo da economia, impedia o arranque industrial de várias formas. Em primeiro lugar, a escravidão dificultava a modernização tecnológica do trabalho, a aquisição de máquinas, pois a compra de escravos já era um investimento alto e feito a vista, antes mesmo que eles começassem a trabalhar; além disso, a evolução tecnológica pressupõe uma especialização do trabalhador, e não convinha aos proprietários educar e especializar seus escravos.
Depois, o trabalhador escravo não constitui um mercado consumidor (fato que ocorre com os assalariados, que podem adquirir livremente produtos com seu rendimento), já que não tem dinheiro e vive do que o dono lhe fornece, normalmente o indispensável para sobreviver e trabalhar. E, ademais, os gastos com vigilância - para impedir fugas, apreender os amotinados ou vigiar a execução correta do trabalho - são mais elevados na escravidão, o que é mais um elemento para barrar a inovação tecnológica. A relação de trabalho assalariado apresenta efeitos contrários à escravidão no que se refere à modernização tecnológica, à expansão da maquinaria.
O trabalhador assalariado não constitui um investimento elevado feito a vista, pois só recebe depois de começar a trabalhar e aos poucos (de forma mensal ou semanal). Além disso, ele não se sente tão revoltado como o escravo, podendo ser educado e se especializar; os gastos com vigilância são também menores. E o proletário pode ser contratado à vontade nas épocas de expansão da empresa, ou demitido nas épocas de crise, ao contrário do escravo que deveria ser sustentado mesmo nos período em que os negócios fossem mal. Ademais, seus salários e a liberdade de comprar o que quiserem (desde que os preços sejam compatíveis com seu orçamento) fazem dos proletários uma parcela de consumidores de bens industrializados. Eles constituem portanto, uma das condições indispensáveis ao processo de industrialização. Outro fator importante para o surto da industrialização brasileira que se iniciou no final do século XIX, foi a imigração.
Os imigrantes foram os primeiros trabalhadores assalariados no Brasil, os primeiros operários na indústria nascente, e aumentaram o mercado consumidor do país, pois já tinham o hábito de adquirir bens manufaturados nos seus países de origem. Como a industrialização brasileira foi tardia ou retardatária, tendo-se iniciado no momento em que o capitalismo passava da fase competitiva para a monopolista, as máquinas utilizadas e a tecnologia não foram produzidas internamente mas importadas daqueles países que já as desenvolviam havia mais de um século, notadamente a Inglaterra.
Isso significa que não ocorreu aqui a passagem do artesanato para a manufatura e desta para a indústria, tal como nos países líderes Revolução Industrial, mas sim que a atividade fabril começou em sua forma moderna (para a época). Ou seja, começou não com as máquinas antiquadas do início da Revolução Industrial (tal como a máquina a vapor), mas com máquinas já movidas a eletricidade ou a combustão. E os estabelecimentos industriais já surgiram com grandes portes para a época - neles trabalhavam dezenas ou centenas de operários - e não na forma de pequenas oficinas. Em grande parte, os pequenos estabelecimentos artesanais ou manufatureiros que existiam antes desse processo acabaram mesmo sendo destruídos por ele - falidos e vencidos pela concorrência. Para importar essa maquinaria era preciso uma fonte de divisas , um produto de exportação que gerasse rendas para serem aplicadas na atividade industrial. Esse produto existia desde inícios do século XIX: era o café. A lavoura cafeeira era, na época, o produto-rei de nossa economia, e se desenvolvia principalmente em São Paulo, de início no Vale do Paraíba e, depois - final do século XIX e início do XX -, na porção oeste desse Estado. Foi a partir da lavoura cafeeira que se originaram os capitais inicialmente aplicados na indústria. Mas, para que os fazendeiros ou comerciantes de café resolvessem investir na indústria, deixando de aplicar seus capitais na expansão da lavoura cafeeira - o negócio mais lucrativo da época -, era preciso algumas condições favoráveis. Essas condições surgiram com as crises nas exportações do café e com o crescimento do mercado consumidor de bens industrializados, que inicialmente eram importados da Europa.
De fato, foi nos momentos de crise - tais como a Primeira Guerra Mundial (1914-18), a crise econômica de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-45) - que o processo de industrialização do Brasil teve seus períodos de maior impulso. Nesses momentos havia dificuldades para exportar o café (que deixava de ser um negócio tão atraente) e também para importar os bens industrializados, que já eram bastante consumidos. ,Concluindo, pode-se afirmar que a industrialização brasileira teve até o final da Segunda Guerra Mundial um caráter substitutivo, isto é, foi um processo de substituição de importações. Tratou-se de produzir internamente bens que eram importados dos países desenvolvidos da década de 1950, esse processo de industrialização adquire um novo caráter: as empresas norte-americanas, européias e japonesas começam a se internacionalizar, tornam-se multinacionais e penetram fortemente no Brasil.
O Estado passa, então, a associar-se ao capital estrangeiro ou ao privado nacional, além de criar um grande número de empresas industriais públicas. Nessa segunda metade do século XX, a industrialização do Brasil deixa de ser feita essencialmente com capitais privados nacionais, em razão da notável expansão das empresas estrangeiras e estatais. E o surto industrial não se restringe mais às indústrias de bens de consumo, mas atinge também o setor de bens intermediários e até o de bens de capital, embora estes ainda hoje sejam relativamente fracos

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